Entrevista: “Tem algo que a família Bolsonaro teme na investigação do caso Marielle”, diz Sergio Ramalho ao GGN

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
[email protected]

“Tem algo realmente que essa família teme, senão o que teria motivado que ficassem monitorando a promotora do caso?", indaga o jornalista

Jornalista Sérgio Ramalho na TVGGN
Jornalista Sérgio Ramalho na TVGGN. Imagem: Reprodução/TVGGN

Autor de um trabalho investigativo ímpar sobre o ex-Bope e miliciano Adriano da Nóbrega, uma das principais figuras do caso Marielle Franco, o jornalista Sérgio Ramalho acredita que o clã Bolsonaro, encabeçado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), teme pela elucidação dos fatos.

Ramalho contou detalhes sobre seu novo livro “Decaído: A história do capitão do Bope Adriano da Nóbrega e suas ligações com a máfia do jogo, a milícia e o clã Bolsonaro”, em entrevista ao jornalista Luís Nassif, no programa TVGGN 20 Horas, transmitido na noite desta segunda (30), no Youtube. [Assista a íntegra do programa abaixo].

Ramalho destacou o novo escândalo envolvendo a família Bolsonaro, o esquema conhecido como “Abin paralela”. As evidências reveladas até agora apontam que a gestão do ex-presidente teria monitorado ilegalmente diversas autoridades, entre elas a promotora Simone Sibilio, que deixou o caso Marielle em 2021. 

“Tem algo realmente que essa família teme nessa investigação, senão o que teria motivado que eles ficassem monitorando a promotora do caso?”, disparou Sergio Ramanho.

Nós tivemos três promotores que passaram por esse caso, além de pelo menos quatro ou cinco delegados da Polícia Civil do Rio de Janeiro. (…) A Simone Sibilio, a promotora investigada [pela Abin paralela], coordenava o Gaeco [Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado] e foi substituída. Depois, pelo menos três promotores passaram por essa investigação e a gente continua querendo saber: quem mandou matar Marielle Franco?”, declarou o jornalista.

Delação premiada

Na nova obra, Ramalho se debruçou sobre a vida do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM-RJ), morto em um confronto com policiais militares, na Bahia, em fevereiro de 2020. 

Nóbrega é apontado como um dos chefes do grupo de matadores de aluguel conhecido como Escritório do Crime, do qual supostamente fazia parte o ex-PM Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora do Rio de Janeiro pelo Psol e seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

Preso desde março de 2019 e condenado em julho de 2021 por destruir provas sobre o caso Marielle, Lessa é conhecido pela proximidade com o clã Bolsonaro – ele foi vizinho do ex-presidente. Já nessas primeiras semanas de 2024, veio a público a informação de que o criminoso teria fechado um acordo de delação premiada. A delação, porém, ainda não foi homologada no Superior Tribunal de Justiça (STJ). 

Durante a entrevista, Ramalho criticou a falta de técnica da Justiça sobre o caso Marielle.

Nós precisamos cobrar como jornalista, a nossa imprensa precisa cobrar, uma polícia mais técnica. O pessoal está fazendo um carnaval com a história dessa possível delação, que ainda não foi homologada pelo STJ. No caso do Ronnie Lessa, ele já foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como o assassino, como quem atirou em Marielle, mas nós temos várias ferramentas técnicas que poderiam ser muito bem utilizadas nesse caso”, explicou. 

Não estou dizendo que uma delação não é importante, mas uma delação tem que vir permeada de muita informação técnica e a gente fica escutando essa coisa do “follow the money, follow the money” [siga o dinheiro, na tradução em português] e aqui a gente não vê isso sendo feito”, acrescentou o jornalista. 

Follow the money

Nessa linha, Ramalho lembrou das fortunas expressivas e injustificadas de atores como Nóbrega e Lessa.

Ronnie Lessa tinha uma casa em Angra dos Reis. Além disso, como é que se explica que um sargento da PM reformado morava ao lado do então deputado federal e do filho vereador de Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro, em um condomínio na beira da praia do Rio de Janeiro, com um salário de menos de R$ 6.000? Ele tinha uma Land Rover, uma casa em Angra dos Reis, então não é difícil fazer essa busca técnica: para onde vai e de onde vem esse dinheiro todo”, pontuou.

O jornalista ainda chama atenção para a forma de pagamento preferida dos nomes envolvidos: o dinheiro vivo. “Tudo em ‘cash‘, porque a própria família Bolsonaro usa muito em ‘cash‘, como se foi mostrado pela própria jornalista Juliana Dal Piva, no livro sobre o clã. Eles compram as coisas em dinheiro, e de onde vem tanto dinheiro?” questionou. 

Morre a Marielle, morre o Adriano da Nóbrega, morre o [ex-ministro e advogado Gustavo] Bebianno, 10 dias depois de denunciar o caso da ‘Abin paralela’. Ou seja, é um jogo muito pesado em que as milícias se apossaram da política, e é preciso investigar”, completou Ramalho. 

Fator Angra 

Ao citar o rastro do dinheiro sobre a fatídica Angra dos Reis, município em que uma residência da família Bolsonaro foi alvo de operação nesta semana em decorrência da ‘Abin Paralela’, Luís Nassif relacionou o interesse dos Bolsonaro na região, tomada por milícias. 

Havia uma tentativa das milícias e dos Bolsonaro de fazer de Angra a ‘Cancún brasileira’. Ele usou esse termo inclusive em 2019, falou que queria fomentar o turismo daquela região, que tem vários municípios que têm sofrido muito com o assédio desses grupos paramilitares. Há uma expansão das milícias e há sempre um braço político. O caso do Adriano é um exemplo: ele circulava muito por aquela região, prestava serviços para algumas famílias da contravenção do jogo do bicho, da máfia do bicho. Isso é realmente algo que precisa ser investigado”, explicou Ramalho.

Outro ponto é quando Bolsonaro tenta pegar dinheiro com os Emirados Árabes para aplicar em Angra, ou quando pegam aquele posto da Polícia Rodoviária Federal que estava em Taguaí, mudam para Angra, e o Flávio Bolsonaro desce de helicóptero e saúda os amigos policiais como se fosse da casa. Vemos o caso de Las Vegas, que foi a máfia que abriu um espaço. Aparentemente, tentaram montar esse modelo em Angra dos Reis, mas com a participação da família do presidente da República, o que é inacreditável”, analisa Nassif.

Assista a entrevista na íntegra a partir dos 30 minutos:

Leia também:

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador